segunda-feira, outubro 17, 2005

Dilema do Barômetro


"Algum tempo atrás, recebi um chamado de um colega que me pediu para arbitrar uma questão referente à avaliação de uma pergunta de prova. Ao que parecia, ele estava a ponto de dar zero a um aluno numa questão de Física, mas o estudante alegava que merecia nota máxima e que queria ganhar um dez mesmo, mas que não ganharia porque o sistema de ensino era uma armação contra os alunos.
Fui ao escritório desse meu colega e li a questão, que dizia: 'Mostre como é possível determinar a altura de um arranha-céu com a ajuda de um barômetro.' [que, como se sabe, é um instrumento que mede a pressão atmosférica.]
A resposta do aluno: 'Leve o barômetro até o topo do prédio, amarre nele uma longa corda e vá baixando-o até a rua. Depois puxe-o de volta e meça o comprimento da corda, que será igual à altura do edifício.'

Bem, é uma resposta interessante, mas será que o rapaz deveria receber pontos por ela? Argumentei que ele até merecia, já que respondeu à questão completa e corretamente. Por outro lado, se recebesse a nota máxima, isso contribuiria para aumentar seus pontos gerais no curso de Física. Um alto número de pontos certificaria que o estudante é bom em Física, mas a resposta dada pelo aluno não confirma isto. Com estas considerações em mente, sugeri que se desse a ele uma outra chance. Achei natural que meu colega concordasse, mas me surpreendi quando o aluno topou.
Agindo nos termos do acordo, dei ao estudante seis minutos para responder à questão, com a advertência de que a resposta deveria comprovar algum conhecimento de Física. Ao final de cinco minutos, o sujeito ainda não tinha escrito nada. Perguntei se queria desistir, já que eu tinha uma aula para dar em seguida, mas ele disse que não desistiria. Contou-me que tinha tantas respostas para o problema que estava apenas pensando em qual seria a melhor. Desculpei-me por tê-lo interrompido e pedi que prosseguisse. No minuto seguinte, ele rapidamente escreveu sua resposta: 'Leve o barômetro até o topo do edifício e incline-se no telhado, deixando cair o aparelho até o chão e meça o tempo de queda com um cronômetro. Então, calcule a altura do prédio usando a fórmula S = metade de 'g' [aceleração da gravidade] vezes o tempo ao quadrado.'
S = ½ gt2
Diante disso, perguntei ao meu colega professor se ele se dava por satisfeito. Ele cedeu e dei ao rapaz quase a nota máxima. Porém, ao deixar o escritório, lembrei-me de que ee havia mencionado ter outras respostas para o problema e fui a ele perguntar quais eram. Ele respondeu que há muitas maneiras de determinar a altura dum prédio usando um barômetro. Num dia ensolarado, por exemplo, poder-se-ia medir a altura do barômetro, o comprimento de sua sombra, o comprimento da sombra do prédio e, usando uma simples regra de três, calcular a altura da construção.
Pedi mais outra solução e ele veio com um método bem básico mas funcional. Pegaria o barômetro e subiria as escadas do prédio, marcando verticalmente na parede a altura do instrumento, subindo a cada marca. Quando chegasse ao telhado do edifício, bastaria contar as marcas e multiplicar pela altura do barômetro. Um método bem direto.
Depois disso, ele apresentou uma solução mais sofisticada, em que penduraria o barômetro num fio e o faria oscilar como um pêndulo. Com isso, determinaria o valor de 'g' no térreo e depois em cima do prédio. Pela diferença entre os dois valores de 'g', a altura do arranha-céu poderia, a princípio, ser calculada. O estudante concluiu, sempre brilhante, que se não estivesse limitado a soluções para o problema que usassem conhecimentos de Física, poderia levar o barômetro até o escritório do zelador do prédio e dizer para ele: 'Sr. Zelador, tenho aqui um lindo barômetro de alta qualidade. Se o senhor me disser a altura deste edifício, eu lhe darei o barômetro de presente.'
Neste ponto não agüentei e perguntei ao estudante se ele realmente não sabia a resposta correta do problema. Ele admitiu que sim, mas que já estava de saco cheio com os professores tentando ensiná-lo como deveria raciocinar e usar seu pensamento crítico, em vez de lhe mostrarem a estrutura fundamental do tema e deixá-lo livre para encontrar soluções originais e criativas. Assim, ele decidiu dar esta sacaneada no mestre."

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